.
.

.
.
.
Oração

ah, Iemanjá, rainha dos mares
envia teu melhor cardume
para meu amor pescar

cuida dele
já que eu não posso cuidar

faz ele deslizar seu barco
em ondas suaves

ele já sofreu tanto

- AR
.
.
.
eu vi e percebi
tão somente agora
que a gente está aqui
só para ir embora e aí voltar
de vez em quando de quando em vez
pro coração de alguém como recordação
ou então como o mistério de uma doce assombração

- jorge mautner
.
.
.
REALITY


Why
       did I think of you all day
       but did not dream of you at night?

Why
       did I feel I no longer loved you
       but so much wept when you died?

Did I not really dream of you?
Did I really stop loving you?
Did you really die?


- AR, 2014
.

I'm walking down your street again
and past your door
but you don't live there anymore

It's years since you've been there
now you've disappeared somewhere
like outer space
you've found some better place

And I miss you

- Everything But The Girl
.
.
.
CÉU





.
.

.
.
A noite é escura
e o caminho é tão longo
que me leva à loucura

- Jorge Mautner
.
.
.


.
.
you can't trace my footsteps
as I walk the other way
- grace jones



.
.


.
.
ANOTAÇÕES DE FEVEREIRO DE 1996

o tempo silencia as palavras
faz-las evaporar, elas alcançam minha nuvem
somam-se a ela
até à última tempestade

- AR, 13/02/1996


Language deafens me
I become the words I splash about
- I'd rather be quiet -

But instead
My speech tears the silence
and flows along the stream

I try to drift
but drown

- AR, 16/02/1996


Solitário beijo, mudez

Meus pensamentos têm machucado meus lábios
Minha língua é a palavra a ser dita

Vejo a onda e não mergulho
Hesito entre a busca e o abrigo

Igual à morte deveria ser a ausência -
A morte morre em si
Para o morto, a morte inexiste

Mas a ausência é presença contrita em mim
E o silêncio, a única palavra

- AR, 29/02/1996





.
.
  "Podem me chamar de... Ismael?"
  "Não, o senhor não se chama Ismael. Faça um esforço."
  Uma palavra. Como bater contra um muro. Dizer Euclides ou Ismael era fácil, como dizer ambará quiqui cocó três corujas no guarda-pó. Dizer quem eu era, ao contrário, era como virar para trás e lá estava o muro.

ECO, Umberto. A misteriosa chama da rainha Loana. Rio de Janeiro: Editora Record, 2005, p. 12.
.
.
E dizer que há loucos que bebem ou usam drogas para esquecer, ah, se eu pudesse esqueceria tudo, dizem. Só eu sei a verdade: esquecer é atroz. Existem drogas para recordar?

ECO, Umberto. A misteriosa chama da rainha Loana. Rio de Janeiro: Editora Record, 2005, p. 59.
.
.
.
.
.
Tornara-me existencialmente, embora ironicamente, amargo, radicalmente cético, impermeável a qualquer ilusão.

ECO, Umberto. A misteriosa chama da rainha Loana. Rio de Janeiro: Editora Record, 2005, p. 211.
.
.
Da página 393 de História da feiúra.
.
.
.
Quem era Pipetto? É Pipetto, dizia, mas eram apenas, mais uma vez, meus lábios a recordar. Somente flatus vocis. Quem era Pipetto eu não sabia. Ou melhor, alguma coisa em mim sabia, só que essa coisa se enfurnava, sonsa, na região ferida de meu cérebro.

ECO, Umberto. A misteriosa chama da rainha Loana. Rio de Janeiro: Editora Record, 2005, p. 178.
.
.
eu te procuro
onde sei que não vou achar
porque se eu te achasse
eu continuaria a procurar

- AR
.
.
.
Dane-se o mundo
se eu não vejo você

- Leo Russo
.
.
.
Minha alma saiu de casa e quedou-se ao relento.
Vejo-a pela janela mas não consigo chamá-la:
minha voz partiu com ela.

- AR
.
.
.
MAYA
para D.

Mais difícil que ter um coração partido
é aceitar que meu coração não está partido.
O pretexto de um coração partido é mais conveniente
e mais romântico e menos dolorido ante o abismo da realidade:
a de que eu não te amo mais, ou que jamais te amei,
ou pior, que o amor não existe, que fomos apenas fluidos e caos,
nada mais que um dos insignificantes acidentes do universo.

- AR
.
.
.
POEMA PARA ILUDIR A VIDA
de Fernando Namora

Tudo na vida está em esquecer o dia que passa.
Não importa que hoje seja qualquer coisa triste,
um cedro, areias, raízes,
ou asa de anjo
caída num paul.

O navio que passou além da barra
já não lembra a barra.
Tu o olhas nas estranhas águas que ele há-de sulcar
e nas estranhas gentes que o esperam em estranhos portos.
Hoje corre-te um rio dos olhos
e dos olhos arrancas limos e morcegos.

Ah, mas a tua vitória está em saber que não é hoje o fim
e que há certezas, firmes e belas,
que nem os olhos vesgos
podem negar.

Hoje é o dia de amanhã.
.
.
.

.
.
.
com chamas pelo corpo
e gritos silenciosos nas pupilas

- antónio forte salvado
.
.
.
a ausência é um estar em mim
- drummond
.
.
.
A DAY OFF

.
.
REGISTRO 11 DE FEVEREIRO DE 2016
para I.

hoje nos tocamos
e tocamos o intangível

como uma prece em silêncio absoluto
irredimível ímpar impossível

- AR
.
.
.
não quero incluir o tempo em meu esquema
- alberto caeiro
.
.
.
escrevi para desistir
- isabel de sá
.
.
.
Róseas flores d'alvorada,
Teus perfumes causam dor.

 - Laurindo Rabelo
.
.
.
we're a thousand miles from comfort
trá trá trá trá trá
we have travelled land and sea
trá trá trá trá trá
- clean bandit & banda vingadora


I'm tired of being played like a violin
(ANTI, Love on the brain, Rihanna)
.
.
.


.
.
TO A LOVER GONE

I still love you
but I don't care about you anymore

It's like enjoying the scent of a flower
but denying the flower itself

- AR
.
.
.
CONTRASTES

1
But baby, don't get it twisted
You was just another nigga on the hit list
(ANTI, Needed me, Rihanna)

2
It's just a little crush
Not like a faint every time we touch
It's just some little thing
Not like everything I do depends on you
(Crush, Campsite Dream)

3


.
.
a drug and a dream
a lost connection
oh, come back to me
so i can feel alive again
as soul and body try to mend

(ANTI, Never ending, Rihanna)




AMY





.
.
O MORTO E O VIVO

Inútil pedir
perdão
              dizer
que o traz
no coração

O  morto não ouve

- Ferreida Gullar
.