.
.
mood

The Fog Warning, Winslow Homer, 1885

.
.
.
[slow, malandra]

skip a beat and move with my body
desce, rebola gostoso
take it down, down
tutudum
- kylie & anitta



.
.
.
There!


.
.
.
Amado,
Em quais vidas ou terras
Conheci seus lábios
Suas mãos
Seu bravo sorriso
Irreverente.
Todos esses doces exageros
Que eu adoro.
Qual a garantia
Que nos encontraremos de novo,
Em qualquer outro mundo
Em qualquer futuro sem data.
Eu desafio a urgência de meu corpo.
Sem a promessa
De mais um doce encontro
Não me permitirei morrer.

- Maya Angelou
.
.
.
.
Você me amava: as honestas mentiras
pareciam na verdade ter raiz.
Maior que o tempo, que imenso, imensís-
simo (eu cria) um tal amor que aspiras-

se ser tão grande quanto o meu ardor!
Então, sem mais, a mão abana, o amor
se vai, respiro mal, mal digo a mim:
– Eis a verdade do início ao fim.

- Marina Tsvetaeva
.
.
.
.
Somos o tempo. Somos a famosa
parábola de Heráclito, o Obscuro.
Somos a água, não o diamante duro,
a que se perde, não a remansosa.
Somos o rio e também aquele grego
que se olha no rio.  Seu reflexo
varia na água do espelho perplexo,
no cristal, feito o fogo, sem sossego.
Somos o inútil rio prefixado,
rumo a seu mar. A sombra o tem cercado.
Tudo nos disse adeus, tudo nos deixa.
Na moeda a memória não perdura.
E no entanto algo ainda dura,
e no entanto algo ainda se queixa.

- Jorge Luis Borges
.
.
.
.
Long and long has the grass been growing,
Long and long has the rain been falling,
Long has the globe been rolling round

- Walt Whitman
.
.
.
.
[talk to me]

pardon the way that I stare
can't keep my eyes off of you
I'm hoping that you can
Help me lose my mind

- frankie valli & liv dawson & disclosure & london grammar
.
.
.

.
.
.
.
[whenever I feel sad]

there'll always be music
it's like riding on the wind
music and me

rain makes rhytmic sounds
make it rain, girl
I feel it, it's coming

- porter wagoner, dolly parton & madonna & michael jackson & yaeji & madonna
.
.
.
[princesa gurl]

você sabe o que é a chuva, meu bem?
make it rain, girl, make it rain
é uma princesa que cai do céu
make it rain, girl, make it rain
é a tristeza em forma de véu
make it rain, girl, make it rain

quando os teus cabelos forem iguais aos cabelos da chuva, meu amor
make it rain, girl, make it rain
então vou gritar de felicidade
make it rain, girl, make it rain
porque gosto muito da chuva e de você, e de você
make it rain, girl, make it rain

- zizi possi & yaeji
.
.
.

.
.
.
.
make it rain


.
.
.
.
well-advised



Game of Thrones - S05E05

.
.
.
.
[freestyle]

ou 20 DE NOVEMBRO
para M.

Estávamos juntos no feriado
Mostrei o mar por uma janela e a lagoa por outra
Nosso beijo tinha sal & doce
Suor & guaraná
Desistimos do filme
Preparamos uma playlist
Rappertório
Entramos em ondas rosas
Seguimos o flow

- AR
.
.
.
.
The obvious is difficult
To prove. Many prefer
The hidden. I did, too.

- Charles Simic
.
.
[a reminder]

I don't want to talk about Tywin Lannister.
I don't choose Tywin Lannister.
I don't love Tywin Lannister.

I love my lover.
People will whisper, they'll make their jokes.
Let them.
They're so small, I can't even see them.
I only see what matters.

- Cersei Lannister, Game of Thrones S04E10
.
.
.
.
Como se a morte a dor o tempo e a sorte
Não nos tivessem nunca acontecido

- Sophia de Mello Breyner Andresen
.
.
.
.
O vazio desenhava desde sempre a forma do teu rosto
Todas as coisas serviram para nos ensinar
A ardente perfeição da tua ausência

- Sophia de Mello Breyner Andresen
.
.
.
.
nostalgia no volume máximo


.
.
.
.
Estamos aqui para vencer a dor
E teu rosto diário faz lembrar
a vitória do tempo sobre o tempo
Porque afinal de contas tu
te pareces muito com a promessa
de uma fé vagarosa & livre
Pareces a coragem, pareces a paz
Pareces mesmo a madrugada egípcia
sobre a qual voava um passarinho.

- Matilde Campilho
.
.
.
.
Não te prometo os estos, a alegria,
A assunção... Mas em toda circunstância
Ser-te-ei sincero como a luz do dia.

- Manuel Bandeira
.
.
.
.
MUNDO NOMEADO
OU DESCOBERTA DAS ILHAS

Iam de cabo em cabo nomeando
Baías promontórios enseadas:
Encostas e praias surgiam
Como sendo chamadas

E as coisas mergulhadas no sem-nome
Da sua própria ausência regressadas
Uma por uma ao seu nome respondiam
Como sendo criadas

- Sophia de Mello Breyner Andresen
.
.
.
.
para M.

Assim como Jano,
Tu carregas a chave das mudanças

Muda-me,
Torna-me quem eu sou

Tu trazes
O Passado e o Futuro –
Transita-me

- AR
.
.
.
.
every insane thing we do to each other
it's a form of love

- how to get away with murder s04e08
.
.
.
.
Há então um delírio, um entusiasmo, um bocadinho do céu. 
Mas depois!... Seria pois necessário estar sempre a começar, para poder sempre sentir?

- Raquel de Queiroz
.
.
.
.
and I'm no better than those I judge


.
.
.
.
Two things I know how to do

One is to dream
Two is loving you
- Sarah Vaughan



To M.
.
.
.
.
[the affair]

O que ela fazia no farol?
O óbvio sinalizar de barcos internos?

 ̶N̶ã̶o̶  houve naufrágios.

Dizem que depois de certa idade tudo flutua.
Os sonhos, os pesos, as luas.

- AR


.
.
.

.
.
.
.
Take my lips, I want to lose them
Take my arms, I'll never use them
- Billie Holiday 

Take this heart away
Take these arms I'll never use
- Madonna
 .
.
.
TASTE HEAVEN

I feel your love
And love is all that I need

- Rhye & State Of Sound .
.
.
.
Be invisible to my eyes, oh Spider
I take you visit me & weave your web
So that I can be mindful of the choices I have made
I tell you, nasty creature –
Withdraw yourself from my sight
Or else I will smash you
Break you into pieces
Dismantle your web
Like I once did
To my heart

- AR
.
.
.
.
ALIAS GRACE

Ourself behind ourself, concealed –
Should startle most –
Assassin hid in our apartment
Be Horror's least.

- Emily Dickinson



... for it is the fate of a woman
Long to be patient and silent, to wait like a ghost that is speechless
Till some questioning voice dissolves the spell of its silence

- Henry Wadsworth Longfellow



A shadow flits before me,
Not thou, but like to thee:
Ah Christ, that it were possible
For one short hour to see
The souls we loved, that they might tell us
What and where they be!

- Lord Tennyson



Blessed are all simple emotions,
be they dark or bright!
It is the lurid intermixture of the two
that produces the illumiating
blaze of the infernal regions.

- Nathaniel Hawthorne



  ... the death, then, of a beautiful
woman is, unquestionably, the most
poetical topic in the world...

- Edgar Allan Poe



I felt a Cleaving in my mind –
As if my brain had split –
I tried to match it – Seam by Seam –
But could not make it fit.

- Emily Dickinson
.
.
.
.
no volume máximo


.
.
.
.
diz o meu nome
say my name
pronuncia-o
say my name
como se as sílabas te queimassem os lábios

if no one is around you
sopra-o com a suavidade de uma confidência
say baby I love you

- mia couto & destiny's child
.
.
.
.
me recolho ferido
exausto dos combates
em que a mim próprio me venci

- mia couto


(...)
porque o homem frequentemente julga as coisas apenas por seu afeto; e porque as coisas que ele acredita conduzirem à alegria ou à tristeza, esforçando-se, por isso, para realizá-las ou para afastá-las, não passam, muitas vezes, de imaginárias; por causa de tudo isso (a incerteza das coisas), facilmente concebemos que o próprio homem possa ser, muitas vezes, a causa pela qual ele se entristece ou pela qual ele se alegra.

- spinoza
.
.
.
.
tudo é tão simples que cabe num postcard
please send me a cartão postal

won't you let me know if you feel free num raio de lua
na esquina, no vento ou no mar

- rita lee & first aid kit 
.
.
.
.
We ain't finished
- Rihanna
.
.
.
.

.
.
.
.
Corolário 1.  Quem imagina aquele que ama afetado de ódio para consigo, ficará dividido entre o ódio e o amor. Pois, enquanto imagina que é odiado por ele, está determinado a ter-lhe, por sua vez, ódio. Mas (por hipótese), nem por isso ama-o menos. Logo, ficará dividido entre o ódio e o amor.

SPINOZA, Benedictus de. Ética. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017, p. 125.
.
.
.
.
me talking to myself





.
.
.
o adeus traz a esperança escondida
- gal costa
.
.
.
.
[menorah]

o teto
de vidro

o sol
no candelabro

brilho
tanto brilho

mais tarde
não haverá noite


- AR
.
.
.
.
Vaga saudade, tanto
Dóis como a outra que é
A saudade de quanto
Existiu aqui ao pé.

Tu, que és do que nunca houve,
Punges como o passado
A que existir não aprouve.

- Fernando Pessoa


I miss you
But I haven't met you yet
So special
But I haven't met you yet

- Björk
.
.
.
.
SUICIDE'S NOTE

The calm,
Cool face of the river
Asked me for a kiss

- Langston Hughes
.
.
.
.
POEM (TO F. S.)

I loved my friend
He went away from me
There's nothing more to say
The poem ends
Soft as it began –
I loved my friend.

- Langston Hughes
.
.
.
.
O desejo para nós
Foi como uma morte dupla
Veloz perecer
Da nossa respiração confusa,
A evaporação rápida
De um perfume estranho e desconhecido
Entre nós
Em um quarto
Despido

- Langston Hughes

.
.
.
.
in the cicada's cry
no sign can foretell
how soon it must die

- basho


so since I'm still here livin',
I guess I will live on.
I coud've died for love –
but for livin' I was born

though you may hear me holler,
and you may see me cry

- langston hughes
.
.
.
.

.
.
.
exurb1a
(obrigado, M.)


.
.
.
it's such a shame our friendship had to end


.
.
.
quando me acendi
foi nas abreviaturas do imenso

- mia couto
.
.
.
.
I wish I was ignorant, so I didn't know how ignorant I am.

– Margaret Atwood, The Handmaid's Tale
.
.
.
.
um chá de cadeira
e eu não sei de você
- aline lessa

Mary Stevenson Cassatt, Le Thé, 1880

.
.
.
matei aquele gin
tanqueray

me perdoa amor
i told you i was trouble

- aline lessa & amy winehouse
.
.
.
queixas febris
once you put your hand in the flame
vontades obstinadas
you can never be the same

risos, fronte, cabelos, mãos e dedos
let my mouth go where it wants to

- Louise Labé & Madonna
.
.
.
.
"don't put your faith in love, my boy", my father said to me
I let my father mold me

- Peter, Paul and Mary & Madonna
.
.
.

.
.
.
Ó dura sorte, que me faz igual
a quem pede socorro ao escorpião
contra o veneno do mesmo animal

- louise labé
.
.
.
.
não me ame tanto
não posso suportar um amor
que é mais do que eu sinto por dentro

eu estou bem aqui
só esperando você não me querer mais
diz que não me quer mais que vai ser melhor
eu juro

-  Karina Buhr & Aline Lessa
.
.
.
I love him if he wants me,
I love him if he doesn't want me.
I love him more if he doesn't want me.

- Paranoid, S01E02
.
.
.
.
eu vi você voltar pra mim
eu vi você voltar pra mim
eu vi você voltar pra mim
eu vi você voltar pra mim

.
.
Don't say I can't go with other boys
I want 'em all, I want 'em all

It's my party
I'm sorry that I missed your party

- Lesley Gore & Charli XCX


.
.
.
[ap. 602]

vejo o mar em uma janela
e em sua oposta a lagoa

transito entre elas silenciosamente
como quem guarda um segredo

lugar sagrado onde o sol nasce
e põe-se

- AR
.
.

.
.
If you're still close enough to hear me,
I did love you.
Very much.
You were my first love.

- OUTLANDER, S03E03
.
.
.
.



Outlander, S03E03

.
.
.

.
.
.
I'm free
You don't own me
You and me were meant to be
Walking free in harmony
That's all I ask of you

- Lesley Gore & Morcheeba
.
.
.
John Singer Sargent, Man wearing laurels, 1874-1880

.
THAT MOMENT
when Margaret Atwood slaps your face


The Handmaid's Tale

.
.
.
FATOS E FALÁCIAS

   Os cursos específicos oferecidos em faculdades e universidades também costumam refletir mais a conveniência dos professores do que as necessidades educacionais dos alunos. Por exemplo, um departamento de História pode oferecer um curso sobre a história do cinema ou da produção de vinhos e deixar de fora uma disciplina sobre a história do Império Romano ou da Europa medieval, apesar do fato de que cursos mais amplos ofereceriam muito mais ideias sobre a maneira pela qual a civilização ocidental se desenvolveu e o mundo atual evoluiu. Como professores precisam de pesquisas para avançar nas suas carreiras, a começar com suas teses de doutorado, seu foco deve estar voltado para algum tema sobre o qual não se escreveu com muita profundidade antes. Então, a partir de uma pesquisa ou de uma análise original sobre assuntos como a história do cinema ou da produção de vinhos, um professor acharia muito mais fácil lecionar uma disciplina sobre um assunto tão restrito do que fazer a grande quantidade de pesquisa necessária para estar à frente de um curso tão amplo quanto a história do Império Romano ou da Europa medieval – pesquisa que provavelmente não terá um retorno em termos de publicação, uma vez que os dois assuntos já foram amplamente pesquisados e já se escreveu muito sobre esses temas por várias gerações.
   Em muitos campi, inclusive alguns dos de maior prestígio, o desaparecimento de um programa de estudo significativo, voltado para o desenvolvimento educacional dos estudantes, e não para a conveniência ou para o avanço nas carreiras dos professores, é uma consequência de uma proliferação de cursos sobre assuntos restritos.

(...)

   ... o conhecimento que um diploma deve representar pode, na verdade, ser composto apenas de fragmentos isolados de quaisquer assuntos restritos que os alunos de determinados professores por acaso escreveram nas suas teses de doutorado, em seus livros ou artigos de periódicos acadêmicos, em vez de ser fruto de uma educação que ofereça conhecimento amplo e coordenado, bem como a compreensão de diversas disciplinas intelectuais.

SOWELL, Thomas. (2017). "Fatos e falácias acadêmicos". Fatos e falácias da economia. Rio de Janeiro: Record, p. 124 e 125.




Para P., que certa vez disse não entender minha descrença em universidades.
.
.
.
IS/NOT
by Margaret Atwood

Love is not a profession
genteel or otherwise

sex is not dentistry
the slick filling of aches and cavities

you are not my doctor
you are not my cure,

nobody has that
power, you are merely a fellow/traveller

Give up this medical concern,
buttoned, attentive,

permit yourself anger
and permit me mine

which needs neither
your approval nor your surprise

which does not need to be made legal
which is not against a disease

but against you,
which does not need to be understood

or washed  or cauterized,
which needs instead

to be said and said
Permit me the presente tense.
.
.
.
.
Music, when soft voices die,
Vibrates in the memory –
Odours, when sweet violets sicken,
Live within the sense they quicken.

Rose leaves, when the rose is dead,
Are heaped for the belovèd's bed;
And so thy thoughts, when thou art gone,
Love itself shall slumber on.

- Percy Bysshe Shelley
.
.
.
.
Estamos no interior duma asa
Que fechou.

- Mário de Andrade
.
.
.
.
Roy Lichtenstein, Drowning Girl, 1963

.
.
sozinho no escuro,
sem teogonia,
sem parede nua para se encostar

- drummond
.
.
.
.

.
.
.
Life among academics had taught me that a well-expressed opinion is usually better than a badly expressed fact, so far as professional advancement goes.

- Diana Gabaldon, Outlander
.
.
.
.
Epitáfio

Onde eu poderia estar sepultado,
sendo eu mesmo cemitério?
Eu sou a palavra que enterra em si ela mesma
continuamente.

- AR
.
.
.
.
Down in the sounding foam of primal things
I reach my hands and play with pebbles of destiny.

- Carl Sandburg
.
.
.
.
I cannot live with you,
It would be life,
And life is over there
Behind the shelf

- Emily Dickinson
.
.
.
.
Be glad your nose is on your face,
not pasted on some other place,
for if it were where it is not,
you might dislike your nose a lot.

Imagine if your precious nose
were sandwiched in between your toes,
that clearly would not be a treat,
for you'd be forced to smell your feet.

Your nose would be a source of dread
were it attached atop your head,
it soon would drive you to despair,
forever tickled by your hair.

Within your ear, your nose would be
an absolute catastrophe,
for when you were obliged to sneeze,
your brain would rattle from the breeze.

Your nose, instead, through thick and thin,
remais between your eyes and chin,
not pasted on some other place –
be glad your nose is on your face.

- Jack Prelutsky
.
.
.
.
26/08/2017













.

.
.
.
.
achando que já pesquei o suficiente

John Singer Sargent, On his holidays, 1901

.
.
Ao fim do dia

Deito pesado como se fosse pedra.
Uma estátua de pedra que deita pesada
mas que cuida em não se quebrar
em demasia.

- AR
.
.
.
Escurece, e não me seduz
tatear sequer uma lâmpada.
Pois que aprouve ao dia findar,
aceito a noite.

E com ela aceito que brote
uma ordem outra de seres
e coisas não figuradas.
Braços cruzados.

Vazio de quando amávamos,
mais vasto é o céu. Povoações
surgem do vácuo.
Habito alguma?

(...)

- Drummond
.
.
.

.
.
.
Não deixa eu me arrepender
De um dia eu ter te amado, John
I love you, I'm ever so fond of you

- Tiê & Sinéad O'Connor
.
.
.
Antes do nome

Não me importa a palavra, esta corriqueira.
Quero é o esplêndido caos de onde emerge a sintaxe,
os sítios escuros onde nasce o "de", o "aliás",
o "o", o "porém", e o "que", esta incompreensível
muleta que me apóia.
Quem entender a linguagem entende Deus
cujo Filho é Verbo. Morre quem entender.
A palavra é o disfarce de uma coisa mais grave, surda-muda,
foi inventada para ser calada.
Em momentos de graça, infrequentíssimos,
se poderá apanhá-la: um peixe vivo com a mão.
Puro susto e terror.

- Adélia Prado 
.
.
.
Parâmetro

Deus é mais belo que eu.
E não é jovem.
Isto sim, é consolo.

- Adélia Prado
.

.
.
Proposição 18. O homem é afetado pela imagem de uma coisa passada ou de uma coisa futura do mesmo afeto de alegria ou de tristeza de que é afetado pela imagem de uma coisa presente.

Demonstração. Durante todo o tempo em que o homem é afetado pela imagem de uma coisa, ele a considerará como presente, mesmo que ela não exista, e não a imagem como passada ou como futura a não ser à medida que sua imagem está ligada à imagem de um tempo passado ou de um tempo futuro. Por isso, considerada em si só, a imagem de uma coisa é a mesma, quer esteja referida ao futuro ou ao passado, quer esteja referida ao presente, isto é, o estado do corpo, ou seja, seu afeto, é o mesmo, quer a imagem seja a de uma coisa passada ou de uma coisa futura, quer seja de uma coisa presente. Portanto, o afeto de alegria ou de tristeza é o mesmo, quer a imagem seja a de uma coisa passada ou de uma coisa futura, quer seja de uma coisa presente.

Escólio 1. Chamo uma coisa de passada ou de futura à medida que, respectivamente, fomos ou seremos afetados por ela. Por exemplo, à medida que a vimos ou a veremos, à medida que nos reconfortou ou reconfortará, à medida que nos prejudicou ou prejudicará, etc. Com efeito, à medida que assim a imaginamos, afirmamos a sua existência. E, portanto, o corpo é afetado pela imagem dessa coisa da mesma maneira que se ela estivesse presente. Como, entretanto, ocorre, geralmente, que aqueles que experimentaram muitas coisas, ao considerarem uma coisa como futura ou como passada, ficam indecisos e têm, muitas vezes, dúvidas sobre a sua realização, o resultado é que os afetos que provêm de imagens como essas não são tão estáveis, mas ficam, geralmente, perturbados pelas imagens de outras coisas, até que os homens se tornem mais seguros da realização da coisa em questão.

Escólio 2. Pelo que acaba de ser dito, compreendemos o que é a esperança, o medo, a segurança, o desespero, o gáudio e a decepção. Efetivamente, a esperança nada mais é do que uma alegria instável, surgida da imagem de uma coisa futura ou passada de cuja realização temos dúvida. O medo, por outro lado, é uma tristeza instável, surgida igualmente da imagem de uma coisa duvidosa. Se, desses afetos, excluímos a dúvida, a esperança torna-se segurança e o medo, desespero, quer dizer, uma alegria ou uma tristeza surgida da imagem de uma coisa que temíamos ou de uma coisa que esperávamos. O gáudio, por sua vez, é uma alegria surgida da imagem de uma coisa passada de cuja realização tínhamos dúvida. Finalmente, a decepção é uma tristeza que se opõe ao gáudio.

SPINOZA, Benedictus de. Ética. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017, p. 111-112.













Master of None, S02E10

.
.
Eu hoje

Festa do pijama
Master of None S02E09




.
.
.
mesmo que o tiro tenha sido dado sem intensão
rasgou a carne e atingiu o coração
- aline calixto


.
.
.
revival



.
.
.
Penny Dreadful

Life, for all its anguish, is ours, Miss Ives.
It belongs to no other.

- Ferdinand Lyle, S03E01
.
.
.
Tennyson in PD


.
.
meu corpo não nasceu antes da minha palavra
– ela apenas levou um tempo calada

meu corpo havia de existir
para que minha palavra pudesse existir

e quanto mais minha palavra acontece
mais meu corpo acontece

- AR
.
.
.
quando você partiu a laranja
havia nela apenas um caroço
que foi cortado junto

sem tento algum
você removeu as partes dele
assim como fez com meu coração

e sorveu o resto

- AR
.
.
.
Winslow Homer, The Veteran in a New Field, 1865

Lorde, Perfect Places, 2017





.
A FOLHA DE SÃO PAULO NA FEIRA DE VIÇOSA

Saramago embrulhando vísceras de carneiro,
Pinochet premido por um pé de porco,
Arafat abraçado a um bando de piabas,
a última vitória do Palmeiras
– nos descontos, contra o frágil Bragantino –
empacota um frango degolado,
e solar, um queijo que dizem ser de manteiga
aguarda a vestimenta, hesitante
entre um crime em Atibaia e a volta da inflação.

- Sidney Wanderley
.
.
.
me


.
.
loyalty loyalty loyalty




.
.
[afecção]

por tanto tempo
o quadro esteve torto na parede
que hoje eu o vejo
plenamente
alinhado

- AR
.
.
.
Acostumado a seu rosto,
ainda é você que vejo quando me olho no espelho.
Eu desenho inconsciente o movimento de contração de suas pálpebras
e o leve arquear dos lábios que formam o sorriso que prediz um beijo
agora eternamente impossível.

- AR


.
.
O meu vazio é cheio de inerências.
- Manoel de Barros
.
.
.
EU HOJE

Sonhando estrelas, transtornada
- Mário de Sá-Carneiro


John Singer Sargent, El Jaleo, 1882

.
.
Lembrei-me de endoidecer
- Mário de Sá-Carneiro
.
.
.


.
.
Eu não sei

Quando abri o Spotify
E busquei o novo álbum de Lana Del Rey
O aplicativo começou a tocar Tomorrow Never Came
Era noite escura de inverno e deitei-me numa posição que permitia sentir
   o perfume Givenchy Gentleman ainda em meu pulso
Ele intensificou o frio a música o sentimento melancólico e frustrante
   de que o futuro de fato nunca veio
D. nunca veio, o reencontro não aconteceu
O que faço desta espera
Eu sempre quis mostrar a ele o perfume de que hoje tanto gosto
E está quase acabando

Eu não sei o que está quase acabando
A música
O perfume
O sentimento
O inverno
A noite
A espera
Ou D.

- AR
.
.
,
catarse na arte


.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.


Os homens enganam-se ao se julgarem livres, julgamento a que chegam apenas porque estão conscientes de suas ações, mas ignoram as causas pelas quais são determinadas. É, pois, por ignorarem a causa de suas ações que os homens têm essa ideia de liberdade. Com efeito, ao dizerem que as ações humanas dependem da vontade estão apenas pronunciando palavras sobre as quais não têm a mínima ideia. Pois, ignoram, todos, o que seja a vontade e como ela move o corpo. Os que se vangloriam do contrário, e forjam sedes e moradas para a alma, costumam provocar o riso ou a náusea. Assim, quando olhamos o sol, imaginamos que ele está a uma distância aproximada de duzentos pés, erro que não consiste nessa imaginação enquanto tal, mas em que, ao imaginá-lo, ignoramos a verdadeira distância e a causa dessa imaginação. Com efeito, ainda que, posteriormente, cheguemos ao conhecimento de que ele está a uma distância de mais de seiscentas vezes a distância da Terra, continuaremos, entretanto, a imaginá-lo próximo de nós. Imaginamos o sol tão próximo não por ignorarmos a verdadeira distância, mas porque a afecção de nosso corpo envolve a essência do sol, enquanto o próprio corpo é por ele afetado.

- Spinoza, Ética
.
.

.
René Magritte, La trahison des images, 1929