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você
não sente a minha falta

e eu
sem ti

- martha medeiros
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que longe os pássaros
- artur rimbaud
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por prazer da tristeza eu vivo alegre
- adélia prado
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A SERENATA

Uma noite de lua pálida e gerânios
ele viria com a boca e mãos incríveis
tocar flauta no jardim.
Estou no começo do meu desespero
e só vejo dois caminhos:
ou viro doida ou santa.
Eu que rejeito e exprobo
o que não for natural como sangue e veias
descubro que estou chorando todo dia,
os cabelos entristecidos
a pele assaltada de indecisão.
Quando ele vier, porque é certo que vem,
de que modo vou chegar ao balcão sem juventude?
A lua, os gerânios e ele serão os mesmos
– só a mulher entre as coisas envelhece.
De que modo vou abrir a janela, se não for doida?
Como a fecharei, se não for santa?

- Adélia Prado
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contrariando o I Ching que manda que eu me cale,
ou diga pouco, ou pelo menos respeite esse silêncio

- ana cristina cesar
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Estou muito compenetrada no meu pânico.
- Ana Cristina Cesar
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falar não me tira da pauta; vou passar a desenhar;
para sair da pauta

- ana cristina cesar
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Tenho medo de perder este silêncio.
- Ana Cristina Cesar
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Um jardim
para D.

As flores
eu carrrego no peito
Lá é sempre primavera
Abraça-me
Sente o perfume

- AR
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Agora fiquei ocupadíssima,
ao sabor dos humores,
natureza chique, disposição ambígua (signo de gêmeos).

- Ana Cristina Cesar
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ai que enjoo me dá o açucar do desejo
- ana cristina cesar
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Pouco a pouco me apago.
O que vivi, cansado
ou já difuso, parece
correr, flutuar.

- Carlos Nejar
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Como suportar a palavra,
se nela aparamos
o íntimo sangue
e não há coração suficiente,
não há esquecimento.

- Carlos Nejar
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Não era mais homem,
era carga de coisas delirantes.

- Carlos Nejar
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os momentos presentes do passado
- t. s. eliot
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Viver não é apenas esgotar
este poder ou a glória
apetecida.
É esgotar
a morte.
Esgotando a vida.

- Reinaldo Telles
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Gostaria de encontrar-te.
Falar das cousas que já estão perdidas.

- Hilda Hilst
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o verdadeiro silêncio de catedral vazia, sem santo, sem altar
- hilda hilst
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e começo aqui e meço aqui este começo
e recomeço e remeço e arremesso e aqui me meço

- haroldo de campos
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Demelza: Ross, how needful would you say is honesty betwixt husband and wife?
Ross: Is honesty always desired?
Demelza: I'd say so.
Ross: Whatever the cost?
Demelza: Yes.
Ross: Yet consider, are there not some matters, persons, past events, particulars of which I've never asked you? And for you also, are there not... like omissions? Because to ask the question means it can never be un-asked. Nor the answer un-heard.
Demelza: So we should never seek to know the truth?
Ross: Are we sure we always want to hear it?

- Poldark, S05E08
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Schweitzer denomina "a descoberta do gênio artístico", que ele atribui à influência decisiva da filosofia de Plotino. Plotino considera o belo um atributo essencial da natureza divina. De acordo com sua metafísica, somente o artista pode reconstruir para o mundo fragmentado dos sentidos a integridade e a perfeição que se perderam ao separar-se o homem de sua comunhão com a divindade.

- Arnold Hauser, História social da arte e da literatura
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como falei antes

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de repente nunca mais esperaremos
- vinicius de moraes
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Solilóquio sem fim e rio revolto –
mas em voz alta, e sempre os lábios duros
ruminando as palavras, e escutando
o que é consciência, lógica ou absurdo.

A memória em vigília alcança o solto
perpassar de episódios, uns futuros
e outros passados, vagos, ondulando
num implacável estribilho surdo.

E tudo num refrão atormentado:
memória, raciocínio, descalabro...
Há também a janela da amplidão;

e depois da janela esse esperado
postigo, esse último portão que eu abro
para a fuga completa da razão.

- Jorge de Lima
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ah, onde estou, ou onde passo, ou onde não estou nem passo
- álvaro de campos
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silêncio interior cheio de som
- fernando pessoa
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Quero fugir ao mistério
Para onde fugirei?
Ele é a vida e a morte
Ó Dor, aonda me irei?

- Fernando Pessoa
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no ciclo eterno das mudáveis coisas
- ricardo reis
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Nada se sabe, tudo se imagina.
Circunda-te de rosas, ama, bebe
E cala. O mais é nada.

- Ricardo Reis
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Are you still mad that we slept together even after we had ended it?
Of course you are, of course you are

- Alanis Morissette
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com o suor de teu rosto comerás teu pão
até que retornes ao solo, pois dele foste tirado

- gênesis, 13, 19


tu és poema
e ao poema tornarás

- ar
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After Grace's father's surgery

Grace: Will, my dad didn't use your blood.
Will: What?
Grace: He had a problem with... He didn't want to use your blood.
Will: Ah! Right. Well, I... am off to bed. 
Grace: Will, I get it, and the second he is feeling better you need to lay into him. He needs to understand --
Will: He thinks how he thinks. I'm not gonna say anything. 
Grace: Are you kidding? Since when are you defeatist?
Will: Don't do that.
Grace: What? Are you mad?
Will: No, Grace. I'm tired. Why do I have to lead the fight? Why, every time someone says something remotely gay, I have to jump in? I've marched. I've written the checks. I've made the calls. But every time you think you can exhale and have your big gay party, somebody tells you they won't bake your cake. I'm not being defeatist, I just don't want to defend who I am all the time. I want a day off. Your dad's not gonna change, Grace, so accept it.

- Will & Grace, S10E15
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Grace reads Will's letter after 30 years he wrote it

Grace: How did I not read this letter? I mean, you went through so much after you came out and I wasn't there for you.
Will: We don't have to talk about it.
Grace: No, we do. I have to. You were tortured. And I never even thought about that. When I got to the part where you write, "Grace, I don't want to be gay. I just wish I was normal." Oh my God, Will. That broke my heart. And then the part that you were thinking about hurting yourself? I mean, is that true? Sweetie?
Will: It was a long time ago.
Grace: Ok, look. This might be 30 years too late. But I just got smart in the last hour. You're right, I didn't think about your pain. I only thought about mine, because that's the way the story of the gay guy and the straight girl is always told. Isn't it? He broke her heart. Poor her. But you were just being who you are, and you were scared to death that the world was gonna find out and hate you for it.

(..)

Grace: I am sorry. I am sorry for not being there with you. I am sorry, Will. I am sorry for not being there when you needed me the most. And I am so, so sorry that I never said this to you before now: The fact that you are a gay man did not ruin my life. It made it so much better. 

- Will & Grace, S10E04
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been there









Will & Grace, S10E04

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clearly me nowadays

Will & Grace, S10E01

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a minha independência tem algemas
- manoel de barros
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as almas são incomunicáveis
deixa o teu corpo entender-se com outro corpo

- manuel bandeira
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Thank you, Emeli Sandé, for not making me feel alone. Again.

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Lendo História social da arte e da literatura, de Arnold Hauser, finalmente encontrei resposta à pergunta que me perseguiu a vida inteira: quando o amor virou mainstream?


Grécia e Roma - A era helenística

(...)


Os personagens pertencem às classes média e baixa; os enredos gravitam em torno de amor, dinheiro, testamentos, pais avarentos, filhos estróinas, amantes insaciáveis, parasitas velhacos, criados manhosos, falsos gêmeos e filhos que reencontraram pais perdidos depois de ignorar-lhes por largo tempo o paradeiro. O amor é indispensável como motivo que desperta o interesse. Também foi Eurípides quem abriu o caminho para a era helenística. Antes dele, o amor era desconhecido como tema de conflito dramático, e na era helenística passou a constituir o eixo da intriga. O motivo amoroso da comédia burguesa talvez seja a mais burguesa de todas as suas características, uma vez que os amantes não lutam contra deuses e semideuses, mas contra a engrenagem da própria sociedade burguesa  – pais que contrariam as paixões dos filhos, rivais ricos, cartas denunciadoras e testamentos ardilosamente maquinados. Sem dúvida, todo esse aparato complicado de intriga amorosa reflete o "desancanto" e a racionalização da vida que sempre acompanha o triunfo da economia monetária e o espírito mercantilista.


Eurípides, você me fez acreditar na ficção do amor e aniquilar a realidade.
Fui um doidivanas. E pior, com espírito burguês. Certa vez um amigo me disse que apenas os ricos sofriam de amor: pois não precisam acordar cedo no dia seguinte, pegar condução, trabalhar o dia todo e voltar cansados à noite para cuidar da família. Sofrimento de amor é luxo. Certíssimo.

- AR
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it turns out everywhere you go, you take yourself
- lana del rey
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