.
Amado,
Em quais vidas ou terras
Conheci seus lábios
Suas mãos
Seu bravo sorriso
Irreverente.
Todos esses doces exageros
Que eu adoro.
Qual a garantia
Que nos encontraremos de novo,
Em qualquer outro mundo
Em qualquer futuro sem data.
Eu desafio a urgência de meu corpo.
Sem a promessa
De mais um doce encontro
Não me permitirei morrer.
- Maya Angelou
.
.
Amado,
Em quais vidas ou terras
Conheci seus lábios
Suas mãos
Seu bravo sorriso
Irreverente.
Todos esses doces exageros
Que eu adoro.
Qual a garantia
Que nos encontraremos de novo,
Em qualquer outro mundo
Em qualquer futuro sem data.
Eu desafio a urgência de meu corpo.
Sem a promessa
De mais um doce encontro
Não me permitirei morrer.
- Maya Angelou
.
.
.
.
Você me amava: as honestas mentiras
pareciam na verdade ter raiz.
Maior que o tempo, que imenso, imensís-
simo (eu cria) um tal amor que aspiras-
se ser tão grande quanto o meu ardor!
Então, sem mais, a mão abana, o amor
se vai, respiro mal, mal digo a mim:
– Eis a verdade do início ao fim.
- Marina Tsvetaeva
.
.
.
Você me amava: as honestas mentiras
pareciam na verdade ter raiz.
Maior que o tempo, que imenso, imensís-
simo (eu cria) um tal amor que aspiras-
se ser tão grande quanto o meu ardor!
Então, sem mais, a mão abana, o amor
se vai, respiro mal, mal digo a mim:
– Eis a verdade do início ao fim.
- Marina Tsvetaeva
.
.
.
.
Somos o tempo. Somos a famosa
parábola de Heráclito, o Obscuro.
Somos a água, não o diamante duro,
a que se perde, não a remansosa.
Somos o rio e também aquele grego
que se olha no rio. Seu reflexo
varia na água do espelho perplexo,
no cristal, feito o fogo, sem sossego.
Somos o inútil rio prefixado,
rumo a seu mar. A sombra o tem cercado.
Tudo nos disse adeus, tudo nos deixa.
Na moeda a memória não perdura.
E no entanto algo ainda dura,
e no entanto algo ainda se queixa.
- Jorge Luis Borges
.
.
.
Somos o tempo. Somos a famosa
parábola de Heráclito, o Obscuro.
Somos a água, não o diamante duro,
a que se perde, não a remansosa.
Somos o rio e também aquele grego
que se olha no rio. Seu reflexo
varia na água do espelho perplexo,
no cristal, feito o fogo, sem sossego.
Somos o inútil rio prefixado,
rumo a seu mar. A sombra o tem cercado.
Tudo nos disse adeus, tudo nos deixa.
Na moeda a memória não perdura.
E no entanto algo ainda dura,
e no entanto algo ainda se queixa.
- Jorge Luis Borges
.
.
.
.
[talk to me]
pardon the way that I stare
can't keep my eyes off of you
I'm hoping that you can
Help me lose my mind
- frankie valli & liv dawson & disclosure & london grammar
..
[talk to me]
pardon the way that I stare
can't keep my eyes off of you
I'm hoping that you can
Help me lose my mind
- frankie valli & liv dawson & disclosure & london grammar
.
.
[whenever I feel sad]
there'll always be music
it's like riding on the wind
music and me
rain makes rhytmic sounds
make it rain, girl
I feel it, it's coming
- porter wagoner, dolly parton & madonna & michael jackson & yaeji & madonna
.
[whenever I feel sad]
there'll always be music
it's like riding on the wind
music and me
rain makes rhytmic sounds
make it rain, girl
I feel it, it's coming
- porter wagoner, dolly parton & madonna & michael jackson & yaeji & madonna
.
.
.
[princesa gurl]
você sabe o que é a chuva, meu bem?
make it rain, girl, make it rain
é uma princesa que cai do céu
make it rain, girl, make it rain
é a tristeza em forma de véu
make it rain, girl, make it rain
quando os teus cabelos forem iguais aos cabelos da chuva, meu amor
make it rain, girl, make it rain
então vou gritar de felicidade
make it rain, girl, make it rain
porque gosto muito da chuva e de você, e de você
make it rain, girl, make it rain
- zizi possi & yaeji
.
[princesa gurl]
você sabe o que é a chuva, meu bem?
make it rain, girl, make it rain
é uma princesa que cai do céu
make it rain, girl, make it rain
é a tristeza em forma de véu
make it rain, girl, make it rain
quando os teus cabelos forem iguais aos cabelos da chuva, meu amor
make it rain, girl, make it rain
então vou gritar de felicidade
make it rain, girl, make it rain
porque gosto muito da chuva e de você, e de você
make it rain, girl, make it rain
- zizi possi & yaeji
.
.
.
[a reminder]
.
[a reminder]
I don't want to talk about Tywin Lannister.
I don't choose Tywin Lannister.
I don't love Tywin Lannister.
I love my lover.
People will whisper, they'll make their jokes.
Let them.
They're so small, I can't even see them.
I only see what matters.
- Cersei Lannister, Game of Thrones S04E10
.
.
.
.
.
.
Estamos aqui para vencer a dor
E teu rosto diário faz lembrar
a vitória do tempo sobre o tempo
Porque afinal de contas tu
te pareces muito com a promessa
de uma fé vagarosa & livre
Pareces a coragem, pareces a paz
Pareces mesmo a madrugada egípcia
sobre a qual voava um passarinho.
- Matilde Campilho
.
.
.
Estamos aqui para vencer a dor
E teu rosto diário faz lembrar
a vitória do tempo sobre o tempo
Porque afinal de contas tu
te pareces muito com a promessa
de uma fé vagarosa & livre
Pareces a coragem, pareces a paz
Pareces mesmo a madrugada egípcia
sobre a qual voava um passarinho.
- Matilde Campilho
.
.
.
.
MUNDO NOMEADO
OU DESCOBERTA DAS ILHAS
Iam de cabo em cabo nomeando
Baías promontórios enseadas:
Encostas e praias surgiam
Como sendo chamadas
E as coisas mergulhadas no sem-nome
Da sua própria ausência regressadas
Uma por uma ao seu nome respondiam
Como sendo criadas
- Sophia de Mello Breyner Andresen
.
.
.
MUNDO NOMEADO
OU DESCOBERTA DAS ILHAS
Iam de cabo em cabo nomeando
Baías promontórios enseadas:
Encostas e praias surgiam
Como sendo chamadas
E as coisas mergulhadas no sem-nome
Da sua própria ausência regressadas
Uma por uma ao seu nome respondiam
Como sendo criadas
- Sophia de Mello Breyner Andresen
.
.
.
.
Take my lips, I want to lose them
Take my arms, I'll never use them
- Billie Holiday
Take this heart away
Take these arms I'll never use
- Madonna
..
Take my lips, I want to lose them
Take my arms, I'll never use them
- Billie Holiday
Take this heart away
Take these arms I'll never use
- Madonna
.
.
ALIAS GRACE
Ourself behind ourself, concealed –
Should startle most –
Assassin hid in our apartment
Be Horror's least.
- Emily Dickinson
... for it is the fate of a woman
Long to be patient and silent, to wait like a ghost that is speechless
Till some questioning voice dissolves the spell of its silence
- Henry Wadsworth Longfellow
A shadow flits before me,
Not thou, but like to thee:
Ah Christ, that it were possible
For one short hour to see
The souls we loved, that they might tell us
What and where they be!
- Lord Tennyson
Blessed are all simple emotions,
be they dark or bright!
It is the lurid intermixture of the two
that produces the illumiating
blaze of the infernal regions.
- Nathaniel Hawthorne
... the death, then, of a beautiful
woman is, unquestionably, the most
poetical topic in the world...
- Edgar Allan Poe
I felt a Cleaving in my mind –
As if my brain had split –
I tried to match it – Seam by Seam –
But could not make it fit.
- Emily Dickinson
.
.
.
ALIAS GRACE
Ourself behind ourself, concealed –
Should startle most –
Assassin hid in our apartment
Be Horror's least.
- Emily Dickinson
... for it is the fate of a woman
Long to be patient and silent, to wait like a ghost that is speechless
Till some questioning voice dissolves the spell of its silence
- Henry Wadsworth Longfellow
A shadow flits before me,
Not thou, but like to thee:
Ah Christ, that it were possible
For one short hour to see
The souls we loved, that they might tell us
What and where they be!
- Lord Tennyson
Blessed are all simple emotions,
be they dark or bright!
It is the lurid intermixture of the two
that produces the illumiating
blaze of the infernal regions.
- Nathaniel Hawthorne
... the death, then, of a beautiful
woman is, unquestionably, the most
poetical topic in the world...
- Edgar Allan Poe
I felt a Cleaving in my mind –
As if my brain had split –
I tried to match it – Seam by Seam –
But could not make it fit.
- Emily Dickinson
.
.
.
.
me recolho ferido
exausto dos combates
em que a mim próprio me venci
- mia couto
(...)
- spinoza
.
.
.
me recolho ferido
exausto dos combates
em que a mim próprio me venci
- mia couto
(...)
porque o homem frequentemente julga as coisas apenas por seu afeto; e porque as coisas que ele acredita conduzirem à alegria ou à tristeza, esforçando-se, por isso, para realizá-las ou para afastá-las, não passam, muitas vezes, de imaginárias; por causa de tudo isso (a incerteza das coisas), facilmente concebemos que o próprio homem possa ser, muitas vezes, a causa pela qual ele se entristece ou pela qual ele se alegra.
.
.
.
.
tudo é tão simples que cabe num postcard
please send me a cartão postal
won't you let me know if you feel free num raio de lua
na esquina, no vento ou no mar
- rita lee & first aid kit
.
.
.
tudo é tão simples que cabe num postcard
please send me a cartão postal
won't you let me know if you feel free num raio de lua
na esquina, no vento ou no mar
- rita lee & first aid kit
.
.
.
.
Corolário 1. Quem imagina aquele que ama afetado de ódio para consigo, ficará dividido entre o ódio e o amor. Pois, enquanto imagina que é odiado por ele, está determinado a ter-lhe, por sua vez, ódio. Mas (por hipótese), nem por isso ama-o menos. Logo, ficará dividido entre o ódio e o amor.
SPINOZA, Benedictus de. Ética. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017, p. 125.
.
.
.
Corolário 1. Quem imagina aquele que ama afetado de ódio para consigo, ficará dividido entre o ódio e o amor. Pois, enquanto imagina que é odiado por ele, está determinado a ter-lhe, por sua vez, ódio. Mas (por hipótese), nem por isso ama-o menos. Logo, ficará dividido entre o ódio e o amor.
SPINOZA, Benedictus de. Ética. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017, p. 125.
.
.
.
.
Vaga saudade, tanto
Dóis como a outra que é
A saudade de quanto
Existiu aqui ao pé.
Tu, que és do que nunca houve,
Punges como o passado
A que existir não aprouve.
- Fernando Pessoa
I miss you
But I haven't met you yet
So special
But I haven't met you yet
- Björk
.
.
.
Vaga saudade, tanto
Dóis como a outra que é
A saudade de quanto
Existiu aqui ao pé.
Tu, que és do que nunca houve,
Punges como o passado
A que existir não aprouve.
- Fernando Pessoa
I miss you
But I haven't met you yet
So special
But I haven't met you yet
- Björk
.
.
.
.
matei aquele gin
tanqueray
me perdoa amor
i told you i was trouble
- aline lessa & amy winehouse
.
matei aquele gin
tanqueray
me perdoa amor
i told you i was trouble
- aline lessa & amy winehouse
.
.
.
queixas febris
once you put your hand in the flame
vontades obstinadas
you can never be the same
risos, fronte, cabelos, mãos e dedos
let my mouth go where it wants to
- Louise Labé & Madonna
.
.
.
queixas febris
once you put your hand in the flame
vontades obstinadas
you can never be the same
risos, fronte, cabelos, mãos e dedos
let my mouth go where it wants to
- Louise Labé & Madonna
.
.
.
.
"don't put your faith in love, my boy", my father said to me
I let my father mold me
- Peter, Paul and Mary & Madonna
.
"don't put your faith in love, my boy", my father said to me
I let my father mold me
- Peter, Paul and Mary & Madonna
.
.
.
Ó dura sorte, que me faz igual
a quem pede socorro ao escorpião
contra o veneno do mesmo animal
- louise labé
.
.
.
Ó dura sorte, que me faz igual
a quem pede socorro ao escorpião
contra o veneno do mesmo animal
- louise labé
.
.
.
.
não me ame tanto
não posso suportar um amor
que é mais do que eu sinto por dentro
eu estou bem aqui
só esperando você não me querer mais
diz que não me quer mais que vai ser melhor
eu juro
- Karina Buhr & Aline Lessa
.
não me ame tanto
não posso suportar um amor
que é mais do que eu sinto por dentro
eu estou bem aqui
só esperando você não me querer mais
diz que não me quer mais que vai ser melhor
eu juro
- Karina Buhr & Aline Lessa
.
.
I love him if he wants me,
I love him if he doesn't want me.
I love him more if he doesn't want me.
- Paranoid, S01E02
.
.
.
I love him if he wants me,
I love him if he doesn't want me.
I love him more if he doesn't want me.
- Paranoid, S01E02
.
.
.
.
I'm free
You don't own me
You and me were meant to be
Walking free in harmony
That's all I ask of you
- Lesley Gore & Morcheeba
.
I'm free
You don't own me
You and me were meant to be
Walking free in harmony
That's all I ask of you
- Lesley Gore & Morcheeba
.
.
.
FATOS E FALÁCIAS
.
FATOS E FALÁCIAS
Os cursos específicos oferecidos em faculdades e universidades também costumam refletir mais a conveniência dos professores do que as necessidades educacionais dos alunos. Por exemplo, um departamento de História pode oferecer um curso sobre a história do cinema ou da produção de vinhos e deixar de fora uma disciplina sobre a história do Império Romano ou da Europa medieval, apesar do fato de que cursos mais amplos ofereceriam muito mais ideias sobre a maneira pela qual a civilização ocidental se desenvolveu e o mundo atual evoluiu. Como professores precisam de pesquisas para avançar nas suas carreiras, a começar com suas teses de doutorado, seu foco deve estar voltado para algum tema sobre o qual não se escreveu com muita profundidade antes. Então, a partir de uma pesquisa ou de uma análise original sobre assuntos como a história do cinema ou da produção de vinhos, um professor acharia muito mais fácil lecionar uma disciplina sobre um assunto tão restrito do que fazer a grande quantidade de pesquisa necessária para estar à frente de um curso tão amplo quanto a história do Império Romano ou da Europa medieval – pesquisa que provavelmente não terá um retorno em termos de publicação, uma vez que os dois assuntos já foram amplamente pesquisados e já se escreveu muito sobre esses temas por várias gerações.
Em muitos campi, inclusive alguns dos de maior prestígio, o desaparecimento de um programa de estudo significativo, voltado para o desenvolvimento educacional dos estudantes, e não para a conveniência ou para o avanço nas carreiras dos professores, é uma consequência de uma proliferação de cursos sobre assuntos restritos.
(...)
... o conhecimento que um diploma deve representar pode, na verdade, ser composto apenas de fragmentos isolados de quaisquer assuntos restritos que os alunos de determinados professores por acaso escreveram nas suas teses de doutorado, em seus livros ou artigos de periódicos acadêmicos, em vez de ser fruto de uma educação que ofereça conhecimento amplo e coordenado, bem como a compreensão de diversas disciplinas intelectuais.
SOWELL, Thomas. (2017). "Fatos e falácias acadêmicos". Fatos e falácias da economia. Rio de Janeiro: Record, p. 124 e 125.
Para P., que certa vez disse não entender minha descrença em universidades.
.
.
.
IS/NOT
by Margaret Atwood
Love is not a profession
genteel or otherwise
sex is not dentistry
the slick filling of aches and cavities
you are not my doctor
you are not my cure,
nobody has that
power, you are merely a fellow/traveller
Give up this medical concern,
buttoned, attentive,
permit yourself anger
and permit me mine
which needs neither
your approval nor your surprise
which does not need to be made legal
which is not against a disease
but against you,
which does not need to be understood
or washed or cauterized,
which needs instead
to be said and said
Permit me the presente tense.
.
.
.
IS/NOT
by Margaret Atwood
Love is not a profession
genteel or otherwise
sex is not dentistry
the slick filling of aches and cavities
you are not my doctor
you are not my cure,
nobody has that
power, you are merely a fellow/traveller
Give up this medical concern,
buttoned, attentive,
permit yourself anger
and permit me mine
which needs neither
your approval nor your surprise
which does not need to be made legal
which is not against a disease
but against you,
which does not need to be understood
or washed or cauterized,
which needs instead
to be said and said
Permit me the presente tense.
.
.
.
.
Be glad your nose is on your face,
not pasted on some other place,
for if it were where it is not,
you might dislike your nose a lot.
Imagine if your precious nose
were sandwiched in between your toes,
that clearly would not be a treat,
for you'd be forced to smell your feet.
Your nose would be a source of dread
were it attached atop your head,
it soon would drive you to despair,
forever tickled by your hair.
Within your ear, your nose would be
an absolute catastrophe,
for when you were obliged to sneeze,
your brain would rattle from the breeze.
Your nose, instead, through thick and thin,
remais between your eyes and chin,
not pasted on some other place –
be glad your nose is on your face.
- Jack Prelutsky
.
.
.
Be glad your nose is on your face,
not pasted on some other place,
for if it were where it is not,
you might dislike your nose a lot.
Imagine if your precious nose
were sandwiched in between your toes,
that clearly would not be a treat,
for you'd be forced to smell your feet.
Your nose would be a source of dread
were it attached atop your head,
it soon would drive you to despair,
forever tickled by your hair.
Within your ear, your nose would be
an absolute catastrophe,
for when you were obliged to sneeze,
your brain would rattle from the breeze.
Your nose, instead, through thick and thin,
remais between your eyes and chin,
not pasted on some other place –
be glad your nose is on your face.
- Jack Prelutsky
.
.
.
.
Escurece, e não me seduz
tatear sequer uma lâmpada.
Pois que aprouve ao dia findar,
aceito a noite.
E com ela aceito que brote
uma ordem outra de seres
e coisas não figuradas.
Braços cruzados.
Vazio de quando amávamos,
mais vasto é o céu. Povoações
surgem do vácuo.
Habito alguma?
(...)
- Drummond
.
.
Escurece, e não me seduz
tatear sequer uma lâmpada.
Pois que aprouve ao dia findar,
aceito a noite.
E com ela aceito que brote
uma ordem outra de seres
e coisas não figuradas.
Braços cruzados.
Vazio de quando amávamos,
mais vasto é o céu. Povoações
surgem do vácuo.
Habito alguma?
(...)
- Drummond
.
.
.
Não deixa eu me arrepender
De um dia eu ter te amado, John
I love you, I'm ever so fond of you
- Tiê & Sinéad O'Connor
.
Não deixa eu me arrepender
De um dia eu ter te amado, John
I love you, I'm ever so fond of you
- Tiê & Sinéad O'Connor
.
.
Antes do nome
Não me importa a palavra, esta corriqueira.
Quero é o esplêndido caos de onde emerge a sintaxe,
os sítios escuros onde nasce o "de", o "aliás",
o "o", o "porém", e o "que", esta incompreensível
muleta que me apóia.
Quem entender a linguagem entende Deus
cujo Filho é Verbo. Morre quem entender.
A palavra é o disfarce de uma coisa mais grave, surda-muda,
foi inventada para ser calada.
Em momentos de graça, infrequentíssimos,
se poderá apanhá-la: um peixe vivo com a mão.
Puro susto e terror.
- Adélia Prado
.
.
Antes do nome
Não me importa a palavra, esta corriqueira.
Quero é o esplêndido caos de onde emerge a sintaxe,
os sítios escuros onde nasce o "de", o "aliás",
o "o", o "porém", e o "que", esta incompreensível
muleta que me apóia.
Quem entender a linguagem entende Deus
cujo Filho é Verbo. Morre quem entender.
A palavra é o disfarce de uma coisa mais grave, surda-muda,
foi inventada para ser calada.
Em momentos de graça, infrequentíssimos,
se poderá apanhá-la: um peixe vivo com a mão.
Puro susto e terror.
- Adélia Prado
.
.
.
.
Proposição 18. O homem é afetado pela imagem de uma coisa passada ou de uma coisa futura do mesmo afeto de alegria ou de tristeza de que é afetado pela imagem de uma coisa presente.
Demonstração. Durante todo o tempo em que o homem é afetado pela imagem de uma coisa, ele a considerará como presente, mesmo que ela não exista, e não a imagem como passada ou como futura a não ser à medida que sua imagem está ligada à imagem de um tempo passado ou de um tempo futuro. Por isso, considerada em si só, a imagem de uma coisa é a mesma, quer esteja referida ao futuro ou ao passado, quer esteja referida ao presente, isto é, o estado do corpo, ou seja, seu afeto, é o mesmo, quer a imagem seja a de uma coisa passada ou de uma coisa futura, quer seja de uma coisa presente. Portanto, o afeto de alegria ou de tristeza é o mesmo, quer a imagem seja a de uma coisa passada ou de uma coisa futura, quer seja de uma coisa presente.
Escólio 1. Chamo uma coisa de passada ou de futura à medida que, respectivamente, fomos ou seremos afetados por ela. Por exemplo, à medida que a vimos ou a veremos, à medida que nos reconfortou ou reconfortará, à medida que nos prejudicou ou prejudicará, etc. Com efeito, à medida que assim a imaginamos, afirmamos a sua existência. E, portanto, o corpo é afetado pela imagem dessa coisa da mesma maneira que se ela estivesse presente. Como, entretanto, ocorre, geralmente, que aqueles que experimentaram muitas coisas, ao considerarem uma coisa como futura ou como passada, ficam indecisos e têm, muitas vezes, dúvidas sobre a sua realização, o resultado é que os afetos que provêm de imagens como essas não são tão estáveis, mas ficam, geralmente, perturbados pelas imagens de outras coisas, até que os homens se tornem mais seguros da realização da coisa em questão.
Escólio 2. Pelo que acaba de ser dito, compreendemos o que é a esperança, o medo, a segurança, o desespero, o gáudio e a decepção. Efetivamente, a esperança nada mais é do que uma alegria instável, surgida da imagem de uma coisa futura ou passada de cuja realização temos dúvida. O medo, por outro lado, é uma tristeza instável, surgida igualmente da imagem de uma coisa duvidosa. Se, desses afetos, excluímos a dúvida, a esperança torna-se segurança e o medo, desespero, quer dizer, uma alegria ou uma tristeza surgida da imagem de uma coisa que temíamos ou de uma coisa que esperávamos. O gáudio, por sua vez, é uma alegria surgida da imagem de uma coisa passada de cuja realização tínhamos dúvida. Finalmente, a decepção é uma tristeza que se opõe ao gáudio.
SPINOZA, Benedictus de. Ética. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017, p. 111-112.
Master of None, S02E10 |
.
A FOLHA DE SÃO PAULO NA FEIRA DE VIÇOSA
Saramago embrulhando vísceras de carneiro,
Pinochet premido por um pé de porco,
Arafat abraçado a um bando de piabas,
a última vitória do Palmeiras
– nos descontos, contra o frágil Bragantino –
empacota um frango degolado,
e solar, um queijo que dizem ser de manteiga
aguarda a vestimenta, hesitante
entre um crime em Atibaia e a volta da inflação.
- Sidney Wanderley
.
.
.
Eu não sei
Quando abri o Spotify
E busquei o novo álbum de Lana Del Rey
O aplicativo começou a tocar Tomorrow Never Came
Era noite escura de inverno e deitei-me numa posição que permitia sentir
o perfume Givenchy Gentleman ainda em meu pulso
Ele intensificou o frio a música o sentimento melancólico e frustrante
de que o futuro de fato nunca veio
D. nunca veio, o reencontro não aconteceu
O que faço desta espera
Eu sempre quis mostrar a ele o perfume de que hoje tanto gosto
E está quase acabando
Eu não sei o que está quase acabando
A música
O perfume
O sentimento
O inverno
A noite
A espera
Ou D.
- AR
.
.
Eu não sei
Quando abri o Spotify
E busquei o novo álbum de Lana Del Rey
O aplicativo começou a tocar Tomorrow Never Came
Era noite escura de inverno e deitei-me numa posição que permitia sentir
o perfume Givenchy Gentleman ainda em meu pulso
Ele intensificou o frio a música o sentimento melancólico e frustrante
de que o futuro de fato nunca veio
D. nunca veio, o reencontro não aconteceu
O que faço desta espera
Eu sempre quis mostrar a ele o perfume de que hoje tanto gosto
E está quase acabando
Eu não sei o que está quase acabando
A música
O perfume
O sentimento
O inverno
A noite
A espera
Ou D.
- AR
.
.
,
catarse na arte
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
Os homens enganam-se ao se julgarem livres, julgamento a que chegam apenas porque estão conscientes de suas ações, mas ignoram as causas pelas quais são determinadas. É, pois, por ignorarem a causa de suas ações que os homens têm essa ideia de liberdade. Com efeito, ao dizerem que as ações humanas dependem da vontade estão apenas pronunciando palavras sobre as quais não têm a mínima ideia. Pois, ignoram, todos, o que seja a vontade e como ela move o corpo. Os que se vangloriam do contrário, e forjam sedes e moradas para a alma, costumam provocar o riso ou a náusea. Assim, quando olhamos o sol, imaginamos que ele está a uma distância aproximada de duzentos pés, erro que não consiste nessa imaginação enquanto tal, mas em que, ao imaginá-lo, ignoramos a verdadeira distância e a causa dessa imaginação. Com efeito, ainda que, posteriormente, cheguemos ao conhecimento de que ele está a uma distância de mais de seiscentas vezes a distância da Terra, continuaremos, entretanto, a imaginá-lo próximo de nós. Imaginamos o sol tão próximo não por ignorarmos a verdadeira distância, mas porque a afecção de nosso corpo envolve a essência do sol, enquanto o próprio corpo é por ele afetado.
- Spinoza, Ética
.
.
.
,
catarse na arte
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
Os homens enganam-se ao se julgarem livres, julgamento a que chegam apenas porque estão conscientes de suas ações, mas ignoram as causas pelas quais são determinadas. É, pois, por ignorarem a causa de suas ações que os homens têm essa ideia de liberdade. Com efeito, ao dizerem que as ações humanas dependem da vontade estão apenas pronunciando palavras sobre as quais não têm a mínima ideia. Pois, ignoram, todos, o que seja a vontade e como ela move o corpo. Os que se vangloriam do contrário, e forjam sedes e moradas para a alma, costumam provocar o riso ou a náusea. Assim, quando olhamos o sol, imaginamos que ele está a uma distância aproximada de duzentos pés, erro que não consiste nessa imaginação enquanto tal, mas em que, ao imaginá-lo, ignoramos a verdadeira distância e a causa dessa imaginação. Com efeito, ainda que, posteriormente, cheguemos ao conhecimento de que ele está a uma distância de mais de seiscentas vezes a distância da Terra, continuaremos, entretanto, a imaginá-lo próximo de nós. Imaginamos o sol tão próximo não por ignorarmos a verdadeira distância, mas porque a afecção de nosso corpo envolve a essência do sol, enquanto o próprio corpo é por ele afetado.
- Spinoza, Ética
.
.
.
René Magritte, La trahison des images, 1929 |