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Lendo
História social da arte e da literatura, de
Arnold Hauser, finalmente encontrei resposta à pergunta que me consumia: quando o amor virou
mainstream?
Grécia e Roma - A era helenística
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Os personagens pertencem às classes média e baixa; os enredos gravitam em torno de amor, dinheiro, testamentos, pais avarentos, filhos estróinas, amantes insaciáveis, parasitas velhacos, criados manhosos, falsos gêmeos e filhos que reencontraram pais perdidos depois de ignorar-lhes por largo tempo o paradeiro. O amor é indispensável como motivo que desperta o interesse. Também foi Eurípides quem abriu o caminho para a era helenística. Antes dele, o amor era desconhecido como tema de conflito dramático, e na era helenística passou a constituir o eixo da intriga. O motivo amoroso da comédia burguesa talvez seja a mais burguesa de todas as suas características, uma vez que os amantes não lutam contra deuses e semideuses, mas contra a engrenagem da própria sociedade burguesa – pais que contrariam as paixões dos filhos, rivais ricos, cartas denunciadoras e testamentos ardilosamente maquinados. Sem dúvida, todo esse aparato complicado de intriga amorosa reflete o "desancanto" e a racionalização da vida que sempre acompanha o triunfo da economia monetária e o espírito mercantilista.
Eurípides, você me fez acreditar na ficção do amor e aniquilar a realidade.
Fui um doidivanas. E pior, com espírito burguês. Certa vez um amigo me disse que apenas os ricos sofriam de amor: pois não precisam acordar cedo no dia seguinte, pegar condução, trabalhar o dia todo e voltar cansados à noite para cuidar da família. Sofrimento de amor é luxo. Certíssimo.
- AR
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