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CÍRCULO

Digo que nenhuma palavra
detém os punhos do tempo,
que nenhum canto
abafa os estampidos da dor,
que nenhum silêncio
abrange os gritos calados.
Digo que o mundo é um imenso lodaçal
em que nos afundamos lentamente,
que não nos conhecemos nem nos amamos
como acreditam os que ainda podem sonhar.
Digo que as pontes se rompem
ao mais tênue som,
que as portas se fecham
ao menor murmúrio,
que os olhos se apagam
quando algo geme por perto.
Digo que o círculo se estreita cada vez mais
e tudo o que existe
há de cair num só ponto.

- Suzana Thénon
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