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A SAGRAÇÃO DA PRIMAVERA
Stravisnky, na Sagração da primavera (1913), introduziu agregados de acordes, quase-clusters que funcionam como ruído, impulsões ruidosas, percussão operando numa métrica irregular que volta a questionar a linha perdida na tradição do Ocidente: a base produtiva do pulso. (A matéria sonora liberada por Stravinski pode ser pensada hoje como processo primário daquilo que se tornará depois a base do rock, da qual ele faz uma espécie de prefiguração descontínua e assimétrica.) A Sagração é heavy-metal de luxo, e vem a ser o primeiro episódio exemplar de que ruído detona ruído (rompendo a margem de silêncio que separa, no concerto, o som afinado, e harmonicamente resolvido, dos ruídos crescentes do mundo). A Sagração, estrutura sonora provocando polêmica e pancadaria na plateia, ruído gerando ruído, desloca o lugar do silêncio, que sai da moldura e vai para o fundo, onde se recusa a responder à pergunta sobre a natureza do código musical (depois da dispersão do código tonal). A introdução do ruído atua ambivalentemente como acréscimo de carga informativa das mensagens e acelerador entrópico dos códigos. (...) Está inaugurado o mundo moderno, com tudo aquilo que ele já contém de crise de proliferação pós-moderna.
- José Miguel Wisnik, in O SOM E O SENTIDO Uma outra história das músicas
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A SAGRAÇÃO DA PRIMAVERA
Stravisnky, na Sagração da primavera (1913), introduziu agregados de acordes, quase-clusters que funcionam como ruído, impulsões ruidosas, percussão operando numa métrica irregular que volta a questionar a linha perdida na tradição do Ocidente: a base produtiva do pulso. (A matéria sonora liberada por Stravinski pode ser pensada hoje como processo primário daquilo que se tornará depois a base do rock, da qual ele faz uma espécie de prefiguração descontínua e assimétrica.) A Sagração é heavy-metal de luxo, e vem a ser o primeiro episódio exemplar de que ruído detona ruído (rompendo a margem de silêncio que separa, no concerto, o som afinado, e harmonicamente resolvido, dos ruídos crescentes do mundo). A Sagração, estrutura sonora provocando polêmica e pancadaria na plateia, ruído gerando ruído, desloca o lugar do silêncio, que sai da moldura e vai para o fundo, onde se recusa a responder à pergunta sobre a natureza do código musical (depois da dispersão do código tonal). A introdução do ruído atua ambivalentemente como acréscimo de carga informativa das mensagens e acelerador entrópico dos códigos. (...) Está inaugurado o mundo moderno, com tudo aquilo que ele já contém de crise de proliferação pós-moderna.
- José Miguel Wisnik, in O SOM E O SENTIDO Uma outra história das músicas