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FATOS E FALÁCIAS

   Os cursos específicos oferecidos em faculdades e universidades também costumam refletir mais a conveniência dos professores do que as necessidades educacionais dos alunos. Por exemplo, um departamento de História pode oferecer um curso sobre a história do cinema ou da produção de vinhos e deixar de fora uma disciplina sobre a história do Império Romano ou da Europa medieval, apesar do fato de que cursos mais amplos ofereceriam muito mais ideias sobre a maneira pela qual a civilização ocidental se desenvolveu e o mundo atual evoluiu. Como professores precisam de pesquisas para avançar nas suas carreiras, a começar com suas teses de doutorado, seu foco deve estar voltado para algum tema sobre o qual não se escreveu com muita profundidade antes. Então, a partir de uma pesquisa ou de uma análise original sobre assuntos como a história do cinema ou da produção de vinhos, um professor acharia muito mais fácil lecionar uma disciplina sobre um assunto tão restrito do que fazer a grande quantidade de pesquisa necessária para estar à frente de um curso tão amplo quanto a história do Império Romano ou da Europa medieval – pesquisa que provavelmente não terá um retorno em termos de publicação, uma vez que os dois assuntos já foram amplamente pesquisados e já se escreveu muito sobre esses temas por várias gerações.
   Em muitos campi, inclusive alguns dos de maior prestígio, o desaparecimento de um programa de estudo significativo, voltado para o desenvolvimento educacional dos estudantes, e não para a conveniência ou para o avanço nas carreiras dos professores, é uma consequência de uma proliferação de cursos sobre assuntos restritos.

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   ... o conhecimento que um diploma deve representar pode, na verdade, ser composto apenas de fragmentos isolados de quaisquer assuntos restritos que os alunos de determinados professores por acaso escreveram nas suas teses de doutorado, em seus livros ou artigos de periódicos acadêmicos, em vez de ser fruto de uma educação que ofereça conhecimento amplo e coordenado, bem como a compreensão de diversas disciplinas intelectuais.

SOWELL, Thomas. (2017). "Fatos e falácias acadêmicos". Fatos e falácias da economia. Rio de Janeiro: Record, p. 124 e 125.




Para P., que certa vez disse não entender minha descrença em universidades.
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