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Entardecer de domingo

Início da primavera. Estou em meu apartamento. Observo a vista,
as luzes de meu bairro acendem-se. Um perfume floral, de fato, entra pela janela –
minha vizinha, talvez, preparando-se para o reflorescimento e o clima ameno;
mas eu não – eu queimo um incenso, queimo as senhas antigas, queimo de desejo.
Penso nos amores que eu tive, revejo fotos, ouço Amanhã Talvez sem parar.
Intrigante como tudo isto me deixa leve e tranquilo,
uma vez que me sinto tão sem futuro, sem talvez amanhã. Tanta vida pra viver. 
É, quando se ama a gente finge que não vê que o tempo passa 
e um pouco mais de você. Melhor assim, bom pra você. Não sei se é melhor pra mim.
Hoje, talvez, seja a única felicidade que eu possa ter: este vento, este choro, este canto.
Hoje, tão agora, tão eterno, tão sempre, tão nunca mais, tão nada além.

- AR